sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

A Coca Light e a Globalização

Até chegar a La Paz estava achando que a Bolívia era um país excluído da globalização.

Me sentia como o nosso colega Zênio, que, certa vez, saiu-se com essa para o Milton Santos: Professor, eu venho de Tombos, lá em Minas. Eu olho para um lado, para o outro e não consigo ver essa tal globalização que o senhor fala. O Meio técnico-científico-informacional ainda não chegou lá. A resposta do Milton Santos foi ótima: Olhe bem, meu filho, procure direitinho que você vai encontrar. Essa história já tem tempo suficiente para ter entendido que tanto em Tombos, como em qualquer lugar da Bolívia, a globalização já chegou faz tempo. E aqui, com consequência particularmente marcantes.

Mas o que eu Guilherme comentávamos antes era o quão significativo da profunda exclusão de todos os padrões globalizados de vida, consumo, cultura, circulação, direitos... é a ausência de alguns elementos que estamos acostumados na Bolívia. Por exemplo, a Coca Light! Não ter coca light significa não estar conectado, além da circulação de mercadorias e gostos, a um padrão estético e sexual de preocupação com o corpo, que inclui ou exclui, de um certo tipo de circulação de pessoas. Os bolivianos e bolivianas são gordinhos, comem toneladas de frituras, e não estão nem aí. No entanto, nas paredes de qualquer lugar, de repartição pública a mercearia, inevitavelmente há calendários enormes com mulheres peladas hiper-gostosas (além de brancas de olhos claros). Essas mulheres, assim como alguns ícones da televisão, são completamente diferente das pessoas que andam nas ruas. Muito mais do que a Xuxa e as paquitas eram um modelo violento para aqueles, especialmente negros, que compartilharam meus tempos de infância. Talvez sejam tão diferentes, que nem façam efeito.

Acho que era isso que me impressionava tanto na "exclusão da globalização" de que estava falando. A Bolívia está tao distante de tantos padrões hoje "globalizados" de organizaçao social, do estado, de consumo, de vida, etc. que não pode nem pensar em chegar neles. (Globalizados porra nenhuma, porque pelo menos um terço da população do planeta não deve nem ter ouvido falar neles.) Os peruanos e nós brasileiros vivemos macaqueando os padrões do ocidente, tentando chegar lá (e até chegamos...). A Bolívia nem se dá ao trabalho. Quer ver só: Ocidente e Oriente, aqui, são sinônimos de altiplano e da região amazônica e pré-amazônica do país.

Mas ao chegar em La Paz é outra história. Aqui a Globalização já chegou sim. Tem coca light, muitas vezes até gelada. As bebidas ficam guardadas na geladeira. Nos restaurantes e no comércio, os trabalhadores acham que estão prestando um serviço, falam com amabilidade e tentam agradar ao cliente (usam essa palavra, inclusive). Os casais se beijam na rua. Homens e mulheres usam roupas que tem a função de enfeitar e valorizar o recheio. Há academias. Tem Shopping! Ainda não vi Mc Donald, mas há redes de fast-food, como os Pollos Copacabana. As lojas tem nomes e algumas são de redes com várias filiais. O bairro de classe média tem cinema cult e ou universitários tem um jeito próprio de vestir e seus lugares favoritos de frequência. Bares tradicionais... Tem polícia na rua (pra todos os lados, por sinal), prédios públicos e nota-se a existência de vários tipos de "autoridades".

Honestamente, até aqui, não tinha visto nada disso no resto da Bolívia, a não ser ocasionalmente um ou outro elemento.

Isso sim é a Globalização! Comi até em um restaurante japonês hoje.

Nenhum comentário:

Postar um comentário