domingo, 28 de dezembro de 2008

"La situación en Bolivia está muy mal"

22 e 23/12/2008

O ônibus do suplicio, merece esse nome. La flota es muy vieja... há janelas de vários tipos, umas abrem, outras não, poltronas meio rasgadas... Mas felizmente nós conseguimos comprar lugares sentados, ao nosso lado estão os que viajam en el pasillo.

Puxo assunto com o o homem que viaja ao meu lado e ele, um pedreiro gordo e amável, dita os rumos da conversa. Está voltando para Santa Cruz, onde vive. Esteve trabalhando na reforma de uns escritórios, contratado por um arquiteto que vive fugindo de lhe pagar o que deve - já quase 3 mil dólares.

La situación laboral en Bolivia está muy mal... en Puerto Quijaro todo es muy caro. ¡Nos explotan! ... mais adiante: Vés: es mucha treierra sin trabajar...pondrian da a los campesinos.
¿Y Evo?
Me parece bien.. - diz com cautela, estamos em Santa Cruz e eu sou branco e falo com o sotaque do colonizador - ... más empeza a hacer cosas. Recuperó los contratos de gás... En realidad, les quitó la mamadera a los que estavan acostumbrados al poder. Fala da reação do governo cruzeño e do assassinato de 25 camponeses em Pando (pelas forças contrárias ao governo). ¡Pero Morales los metió en la carcel! Haora ya no pueden hacer lo quieran... Evo tiene mucho apoyo en el continente, en Venezuela, Brasil.No pueden quitarlo.

Assim, na conversa do albañil, passamos pela não regulação do trabalho, carestia, reforma agrária, elites descoladas do restante da sociedade, dependentes do Estado, dependência internacional ... Todos temas dos movimentos sociais brasileiros no final dos anos 70. Fico com a pergunta na cabeça: está mesmo acontecendo algo especial na América do Sul? Há uma transformação silenciosa? O que para mim é claro é que, aqui na Bolívia, as "Veias abertas da América Latina" continuam bem abertas e o tipo de interpretação que parece já não ser suficiente par interpretar a realidade brasileira, ainda se aplica muito bem à realidade boliviana.

Chegamos a Santa Cruz bem cedo. Quase na entrada da cidade o ônibus teve que esperar por quase uma meia hora em uma fila porque a ponte da rodovia (na verdade a ponte é da ferrovia e foi adaptada com tábuas ao longo dos seus 300 metros para permitir também o uso rodoviário) só da passagem em um sentido de cada vez. Ficamos bem no centro da cidade, Dormitório Sta. Bárbara, 25 bolivianos cada (US$ 3,50), limpo e honesto. Como disse o Guilherme, é muito bom estar em um lugar que oferece o mínimo razoável.

Santa Cruz é uma cidade com um plano em grelha no centro, ao redor da praça onde fica a catedral e o palácio de governo, que depois assume um padrão radial, com três anéis viários concêntricos. Mas a cidade não é tão bem planejada e segregada como essa discrição (ou os mapas) sugerem. Fomos ao bairro chique - equipetrol - casarões luxuosos, universidades que parecem shopings (com a bênção de Sto. Agostinho) e o boulevard de bares e boites da moda que fazem a noite dos "chiquitos de papá". Depois vamos ao Mercado Mutualista, já fora do terceiro anel (e tem muita coisa fora do terceiro anel e dos mapas da cidade), onde se pode comprar livros baratos - na verdade xerox encadernadas de livros - trabalho profissional! Na realidade, nesse mercado, pode-se comprar tudo, o que inclui um porco inteiro pendurado pelos pés, eletrônicos, material de construção, etc. No maior camelódromo que eu já vi. De certa forma, todo o comércio da cidade se organiza assim, em ruas e lojas que vendem um monte de coisas misturadas.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Altiplano Boliviano

27/1272008

Chegamos ontem ao altiplano boliviano. Ainda não me arrisco a emitir opinião. Acho que, como diz o meu xará, "isto é o sertão ... fim de rumo, terras altas....é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador". E é aquilo mesmo: aqui o sujeito vive o seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade. E parece que neste sertão, ao contrário do nosso, nem há os que querem que não seja.

Passamos esses dois primeiros dias em Oruro (3700 m) e hoje seguimos para Potosi - a cidade mais alta do mundo (4060 m), a das minas de prata que que "justificaram" algumas das maiores barbaridades da colonização espanhola.

Assim que tiver o que dizer, escrevo. Só um detalhe, aqui, contrário de Santa Cruz, os muros dizem: Evo Sí! Sí a la nueva Constituición!

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Samaipata

24/12

¿Que he dicho? Viajar en el pasillo é o paraíso.
Samaipata fica a uns 100 Km de Santa Cruz, na encosta da cordilheira e tem um sítio arqueológico importante, "El Fuerte", ruínas pre-inacicas, de um povo que não lembro o nome, que foi substituído por outro, que depois foi dominado pelos incas, que ocuparam a cidadela ... e tiveram o fim que todos sabemos. É também o lugar onde o Che foi assassinado - na verdade ele foi morto em Vallegrande, mais ou menos perto dali.

Saímos para um passeio de turista. Pegamos um taxi- lotação que iria a té Samaipata em 2 horas por Bs. 30 (US$ 4). Só que a estrada estava interrompida pela queda de uma barreira - na verdade duas. O taxi parou no vilarejo anterior à barreira. Daí, pegamos um onibusinho até próximo da ponte que havia sido levada pela avalanche. Andamos o trecho da fila de carros e caminhões que esperavam o concerto da ponte para atravessar. Passamos o rio por uma pinguela de dois troncos sobre o rio. Do outro lado conseguimos carona na caçamba de uma pick-up até a segunda barreira caída. Nova fila de carros, homens trabalhando e montes de gente andando para todos os lados ou, principalmente, parada, esperando. Essa dava para a travessar pela lama.
Do outro lado, a fila de caminhões era imensa, uns 2 Km, pelo menos. A carga era claramente a da agricultura camponesa: em um mesmo caminhão, várias sacas de milho, frutas, feijões, grandes cestos com folhagens, etc. Não era preciso prestar atenção à carga para saber que a havia produzido, porque, em muitos casos, esses iam por cima. Famílias de camponeses, indígenas, sentados ou deitados sobre as sacas de milho. Parecia que já estavam e continuariam esperando por dias. Cozinhas improvisadas em fogueiras preparam caldos de milho com frango. O asfalto e alama vao ficando cobertos de cascas de frutas. Muitos tratavam de carrear os produtos nas costas, indo e voltando pelas pinguelas com cestos e sacas enormes.

Mais um taxi até Samaipata. Depois outro até "El Fuerte". Impossível seguir até Vallegrande. Na volta damos a sorte de conseguir lugar en el pasillo em um ônibus que vai para Santa Cruz - ou seja, que nos deixará na primeira barreira, na verdade a alguns quilômetros dela. Tive que brigar com o motorista para que ele fosse, pelo menos, até o fim da fila. Fui o único passageiro a reclamar. Um filho da puta de policial, fardado, que tinha passado a viagem se valendo da autoridade para assediar de maneira constrangedora uma mulher 20 anos mais jovem que ele, ainda foi contra, dizendo que se o motorista não queria, não podíamos obrigá-lo a levar os passageiros até o mais próximo possível do destino. Milagrosamente a barreira tinha sido retirada, mas como não havia um policial sequer em toda a estrada, os carros que subiam e os que deciam se emaranhavam e ninguém andava. Preferimos seguir a pé - muito mais rápido - mas, um pouco depois, começou a chover (forte). Com o transito andando um pouquinho melhor, pegamos carona pendurados na caçamba de um caminhão, até para tudo de novo. Dentro (da caçamba) ia uma família de camponeses. Mais uma caminhada na lama e conseguimos pegar um taxi até perto de Santa Cruz. De lá, um micro (ônibus) até perto do alojamiento. Saída às 7:30, volta 21:30 - muertos. Que paliza!

E essa odisséia porque era um dos pontos turísticos mais importantes da Bolívia. Valeu a pena o espírito de que tudo que acontece no trabalho de campo, é campo. Además, el Valle de Samaipata es muy lindo... Uma floresta quase tropical, só que menorzinha e com folhas verde claro. Quase não se vê plantaçoes, mas a fila de caminhões contradiz essa impressão. Encostas impressionantes, em um trecho o rio corre em um pequeno canion, vales suspensos...

Hoje, escrevo desde el Plan 3000, um bairro da periferia de Santa Cruz onde se concentra a população mais pobre e, consequentemente, muitos dos partidários do governo de Evo. Há alguns meses os jovens de classe média adotaram uma estratégia de "militância" contra a população local: vir para o bairro e passar a noite fazendo arruaça pelas ruas, baderna e quebradeira. Houve confrontos violentos e a polícia nada fez. A aparência do bairro é o que se pode imaginar como sedo a periferia de uma grande cidade do país mais pobre da América do Sul.

Sobre o Plan 3000 o guilerme recomendou um site interessante:
http://colectivoboliviano.wordpress.com/2008/12/12/plan-3000-bastion-rebelde-del-oriente-bolivianoi/

Depois posto o diário dos dias anteriores.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Primeiros movimentos

21/12/2008

Comçamos a viagem ontem às 10 da manha, no ônibus Rio-Puerto Soares. Confirmei a teoria de que a melhor coisa a fazer antes de uma viagem longa é se cansar bastante. As horas no ônibus passaram facilmente. Ele deu uma quebradinha entre Campo Grande e Aquidauana, que, depois de um concerto improvisado por um passageiro, nos deu o tempo exato para umas cervejinhas. Duas horas depois seguimos.

Já estamos no Pantanal, dizem as placas.
Uma ou duas horas de viagem depois, me convenço. Já vi da janela do ônibus um veado e um tuiuiu.A vegetação é bem diferente do que eu imaginava. Um cerrado frondoso e muito verde, muitas epífitas, chega a formar uma mata densa. Alguns kilometros depois, buritizais a perder de vista. Mais adiante, começam a surgir uns lagos (ou possas), cobertos de aguapés. A vegetação ganha aspecto de savana.

Não conseguimos passagem no "trem da morte" e a única maneira de embarcar era num esquema de subornar (caro) o guarda do trem e viajar no restaurante. Para o dia seguinte também não há. Dormimos em Puerto Quijaro e no dia seguinte, lunes, embarcamos naquele que, pela aparência, merece o nome de ônibus do suplício.

Puerto Qujaro e a vizinha Puerto Soares são cidades que fazem Corumbá, a correspondente no lado brasileiro, parecer linda e próspera. Ruas de terra, construções amontoadas, lojas e gente pela rua que vendem quase todas as coisas misturadas. Puerto Soares é um bocadinho menos ferrada. Tem uma praça grade com uma igreja e alguns restaurantes a volta. Cerveza Paceña - boa e cara e empanadas (não comparáveis às do San Juanino, mas são empanadas).