La Paz é uma cidade interessante, bem interessante.
Não é propriamente bonita, mas é diferente de tudo o que eu já tinha visto - em vários sentidos. Em primeiro lugar pela "geografia", ou melhor dizendo, pelo sítio da cidade. Ela fica em um vale muuuito profundo, de vertentes muito íngremes, escavado em um planalto sedimentar. O resultado é que do centro, ou melhor, de qualquer lugar que você olhe a imagem é de uma parede de casas e prédios, subindo até onde começa o céu. Tudo fica mais impressionante porque eles tem o hábito de não emboçar as paredes, mesmo em prédios mais classe-média (os mais ricos ou comerciais são emboçados). Além disso, as encostas são acinzentadas e copletamente peladas, não cresce nem uma graminha. Então o paredão de cidade é quase todo da mesma cor marrom-acinzentado. Quase todas as ruas são estreitas e tem calçadas mais estreitas ainda. Parece feio e opressivo, não é? Mas na verdade não é nada disso. A paisagem tem sua beleza e a cidade é muito agradável. É até estranho, mas me senti completamente a vontade em La Paz. Gostei de andar pelas ruas, mesmo com a língua de fora nas ladeiras. "Esquecia" de pegar o ônibus e acabava tendo que andar muitas quadras.
Ao contrário do que é mais comum, em La Paz, os ricos vivem em baixo e os pobres em cima. Em cima mesmo. Primeiro tem aqueles que moram nas partes mais altas das ladeiras, depois tem a enorme cidade de El Alto, que fica no topo do planalto.
El Alto é completamente plana e enorme - pelo menos essa foi a minha impressão. Fui pra lá muito curioso, porque essa cidade tinha sido um dos principais pontos de organização dos movimentos populares em vários episódios anteriores à eleição do Evo(e responsáveis por ela) . Há, ou houve, uma forte organização por comitês barriales ou de quadra, que chegaram a estabelecer barricadas que isolaram o acesso à La Paz. Mas isso não se nota na paisagem - a não ser pelo símbolo da bola amarela com dois pinheirinhos na porta de vários estabelecimentos - indicando que trata-se de uma cooperativa. Além disso, fui visitar a cidade no domingo, quando tem a feira da 16 de julho - de lavada a maior feira que eu já vi. Tem de implementos agrícolas a colchoes, passando por tudo o que eu consegui imaginar (tá bom, não vi peças de avião). esqueçam todos os meus comentários precipitados sobre outros mercados que vendiam de tudo. Cheguei à feira e passei três horas andando, tentando descobrir onde era o final. Desisti e fui procurar o que me interessava. Me lembrei de uma expressão das aulas de geografia: hipertrofia do (setor) terciário. Nunca vi tanta barraquinha na vida. E, depois da chuva, ao fundo a impressionate paisagem do "cerros nevados" e do Ilimani ao fundo. A cidade é bem mais estruturada e aparentemente menos pobre do que eu imaginava.
No dia seguinte, fui ver os ricos. Descendo do centro, seguindo o eixo do Prado, primeiro está Sopocachi, um simpático bairro de classe média. Simpático mesmo, com prédios bonitinhos, bares, restaurantes e supermercados de melhor padrão... várias praças. Mas sem esnobação. Tudo bonitinho, mas sem luxo ou esnobismo. Pelo menos aos meu olhos cariocas.
No dia seguinte, fui ver os ricos. Descendo do centro, seguindo o eixo do Prado, primeiro está Sopocachi, um simpático bairro de classe média. Simpático mesmo, com prédios bonitinhos, bares, restaurantes e supermercados de melhor padrão... várias praças. Mas sem esnobação. Tudo bonitinho, mas sem luxo ou esnobismo. Pelo menos aos meu olhos cariocas.
Mais ao sul, passando uma "barreira geográfica", uma grande descida, onde praticamente só cabe a estrada, vem os bairros mais ricos. Padrão "suburb". Ruas arborizadas e casas. Alguns prédios baixos, comércio mais luxuoso e muitas, muitas cabines de seguranças. Mas, apesar disso, também não achei esnobe ou agressivo. O clima nas ruas é agradável, as pessoas se falam, há muitos vendedores com carrocinhas ou baldes de refresco . Chega a ser engraçado ver um a cholita vender o refresco que ela carrega em um balde, e serve em um saco plastico com canudinho, a uma senhora toda emperequetada. Também é notável a quantidade de mulheres com roupas tradicionais (Aymaras e Quechua), muito arrumadas, andando pelas ruas.
Podem ser só os meus olhos, mas fiquei impressionado com o fato da cidade ser muito menos partida do que as nossas. É "perfeitamente" segregada. Cada classe tem seu lugar. E aqui classe e "raça" tem uma correspondência muito forte. Mas me parece que não há a hostilidade e o "medo" que nossa "classe média" tem dos pobres.