sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Sobre o Peru, Lima e outras coisas mais


Agora que percebi que não tinha escrito nada sobre o Peru. Talvez por medo de confessar que adorei o Peru e ser mal entendido. Mas é verdade, gostei mesmo. Não sei bem porque. É um país pobre, cheio de mazelas, muito mais que o Brasil (impressionante), tem picareta por todo lado, as cidades não são tão bonitas assim (dentre as que estive, Cusco, linda, é a excessao), mas não sei... fui com a cara. Acho que porque em parte parece o Brasil, principalmente o Brasil de uns 10 ou 15 anos atrás. Pela precariedade e bagunça de algumas coisas, pela pobreza, que é evidente para a maior parte da população e também porque sinto um clima de otimismo no ar (não importa que seja injustificado), como naquela época em que o Fernado Henrique vendeu o país a preço de banana e faturou um aumentozinho nos níveis de consumo durante uns anos.


¡O Peru Avança! Está escrito por toda parte, é a propaganda do governo. E seja lá o que deus quiser! Domingo passado todos os jornais comemoravam que eles assinaram o tratado de livre comércio com os EUA. Tem turista pra tudo quanto é lado. (Principalmente em Cusco - a impressão é que a cidade recebe 10 vezes mais turistas que o Rio - fui conferir e os números felizmente não dizem isso). Tem muamba pra tudo quanto é lado. Tem movimento nas ruas, os bares ficam abertos até tarde. A impressão que tenho é que as pessoas trabalham pra cacete. Todo mundo parece estar dando um jeito de levar a vida.

O país saiu de um período tenebroso, que misturou os desmando e gopes do Fujimori com a guerra contínua os entre governos e as guerrilhas do Tupac Amaru e Sendero Luminoso, que durou até 2000. Essa sensação, de estar melhorando, misturada ao orgulho peruano e ao agito sul americano da uma mistura interessante no ar.

Lima é um bom exemplo. A cidade não tem nada de mais, mas é interessante. Pelo menos eu gostei. Pra falar a verdade, gostei muito, não sei bem porque. A cidade eh enorme, não eh bonita, a praia é estranha, fica em baixo de um penhasco, tem pedrinhas no lugar da areia e a cidade não dá muita bola pra ela. A arquitetura não é grandes coisas. Os prédios antigos não são dos mais bonitos e estão misturado com um mote de outros mais ou menos modernos, quase todos feios.

Segui a sugestão do lonely planet e fugi do centro da cidade. fiquei hospedado em Miraflores, uma espécie de Leblon daqui, só que maior e, portanto, um pouco menos elitizado do que o nosso Leblon. É também mais simpático. O bairro parece não dar muita bola pra praia, mas aproveita o ventinho do mar. As ruas são largas, muitas tem árvores, prédios e casa compõem bem a paisagem, que não chega a ser bonita, mas é agradável. Não cheguei a sair, mas a night parece bem animada.

Acho que o que eu gostei foi dessa coisa que a gente sente no ar e chama com um monte de termos vagos, quase todo meteorológicos, como clima, ar, ambiente, atmosfera... É o Peru que avança!

Por sinal, não é a primeira vez que o Peru Avança. Dá pra ver nas ruas. Há Fords rabo de peixe e outros luxos de outros tempos circulando por aí. Mas tem também um "luxo" ou refinamento, que para nós é mínimo e que "não pegou". Só um exemplo: eles não emboçam as empenas cegas (deixam as laterirais dos prédios com os tijolos aparentes).

Esse tipo de coisa sempre foi o que eu mais gostei na geografia: que as cosas aparecem. Dá pra ver, andando em uma cidade, que ela teve períodos de maior ou menor crescimento, quais foram esses período, a riqueza relativa dos diferentes períodos, ou então quais são os locais da moda, quais são os lugares "suspeitos", de que crime eles são suspeitos... etc. A economia, os valores, a cultura, a lei a ordem social aparecem na geografia da cidade. Assim como as estruturas geológicas, os processos erosivos e os usos do solo aparecem na paisagem (fora da cidade). Ou será o contrário ? "Crescimento econômico" ou "períodos de maior abundância" são quando o PIB cresce a mais de x% ao ano ou quando aparecem carros novos na rua, quando se vê montes de materiais de construção nas calçadas e é uma dificuldade encontrar um bom pedreiro porque eles estão todos ocupados? Democracia é quando o sufrágio envolve a maior parte da população ou quando essa maior parte acha que o governo esta fazendo o que deve? [notem que nas minhas formulações do "mundo material" usei perspectivas bem conservadoras e passivas para a população. Crescer economicamente foi consumir e atuar politicamente foi não sentir-se aviltado pelo que os outros decidem em seu nome].

Bom , o negócio está começando apegar metafísica... melhor para por aqui.

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