domingo, 1 de fevereiro de 2009

Caminho Inca



Deslumbrante. Extenuante. Para mim são as duas melhores palavras para descrever essa "aventura". Dependendo do momento, uma e outra era a mais adequada. Machu Pichu no final é um presente merecido, para quem chega esgotado, dolorido e ensopado de chuva, suor ... sem cerveja. Adorei ter conseguido fazer, mesmo com o meu preparo físico, conquistado nas mesas dos botecos cariocas.

Fazer a trilha não faz sentido para quem não tem prazer com a atividade física da caminhada. As paisagens são bonitas, sim...maravilhosas, deslumbrantes, em alguns casos, mas por si só não valeriam o esforço. Se a caminhada for entendida como um preço a pagar para ver aquilo, ou para chegar a Machu-Pichu, eh melhor ir de trem . Sinceramente, dá para fazer trekings tão bonitos quanto esse na região da Ilha Grande, da Serra dos Órgãos ou Bocaina, na Chapada Diamantina, etc. Provavelmente serão menos cansativos e muito mais baratos. Mesmo assim, o caminho Inca é uma delícia e faz sentido ele ser o treking mais disputado do mundo. Em primeiro lugar pelas montanhas. Enormes, super inclinadas e cobertas por um vegetação deslumbrante, que vai da floresta sub-tropical aos campos de altitude, em um ambiente muito úmido que decora troncos e pedras com musgos e líquens de todos os tipos. Outro grande barato são as escadas e caminhos de pedra impecáveis, construídos pelos incas há mais de 500 anos, que se estendem por quase todo o caminho ( o "início" e o "final", perto de machu pichu foram construídos depois). Além disso, no caminho, volta e meia aparecem ruínas interessantes, que é difícil imaginar como foram parar ali.

O caminho na verdade é um "desvio", subindo as montanhas que sai e volta às margens do rio Urubamba . Imagino que a principal via de comunicação entre Machu-Pichu e as demais cidades do vale sagrado fosse pelo rio, e não pelo caminho inca. Por sinal, o Urubamba, o rio que construiu o Vale Sagrado dos Incas, pelos mapas que vi, nada mais é do que o Rio Amazonas. Será que eles sabiam que o seu vale sagrado era o vale do maior rio do mundo e que, se descessem todo o rio, iam chegar a outro oceano ? A propósito, o Vale Sagrado merece o nome. É lindíssimo. Os vales todos cultivados, divididos em quadradinhos formando um mosaico. Um monte de pueblitos muito simpáticos, um aqui outro ali. Muito verde, alguns pedaços de florestas e as encostas super inclinadas, algumas com a rocha aparente, a maioria coberta de vegetação. De brinde, de vez em quando se vê ao fundo um pico nevado. É uma região camponesa, mas não dá a impressão de ser muito pobre. Ao contrario, não sei se pela exuberância das plantações, tem um ar de comedida prosperidade.

De volta ao caminho, vamos à aventura. O primeiro dia é uma moleza, ônibus, almoço e uma caminhada leve de no máximo 4 horas. Dormimos num campo verdinho e fiquei horas olhando o céu e pensando como fui capaz de ficar tanto tempo sem acampar, sem estar no meio do mato... e muitas coisas mais. O segundo dia e muito, muito sinistro: uma subida de 1400 metros, saindo dos 2800 ate os 4.200... e esses últimos 200 metros são um sufoco. Depois uma ou duas horas de descida por uma escadaria de pedra. Você agradece por estar descendo, mas mesmo assim cansa. Eh extenuante, mas confesso que quando cheguei tinha uma deliciosa sensação de potencia. Sentia como se fosse capaz de fazer qualquer coisa. Como se pudesse comer a Madona, se quisesse. O terceiro dia eh mais leva, mas como vem depois do segundo... Acho que a gente desce uns 2000 metros pelas escadas de pedra. Não é cansativo como a subida, mas lá pela metade do caminho você não agüenta mais ver degrau. O legal é que tem varias ruínas. Segundo nosso guia, centros cerimoniais, religiosos e militares. Por sinal essa explicação servia para tudo. Essa gente não trabalhava? Só ficava rezando e arrumando confusão? Pelo menos o trabalho de colocar aqueles milhões de degraus no caminho eles tiveram... No terceiro dia chegamos "pertinho" de Machu Pichu, num local que tem chuveiro quente! Paguei uma fortuna (20 reais) por uma camiseta horrível, que estava limpa e seca. Tradicionalmente rola uma festinha ai, mas por alguma enrolação do nosso guia, fomos excluídos. Sinceramente, estávamos todos tão cansados que ninguém se importou muito. No dia seguinte, acordamos as 4 da manha para sir para Machu Pichu. Quem disse que era pertinho? Pertinho o cacete! São lá mais duas horas ou mais de caminhada em baixo de chuva. Da "janela do céu" - esses lugares têm todos os mesmos nomes - só se via nuvens. Cheguei a uma conclusão: Machu Pichu, de longe, é igual ah África vista de Gibraltar e ah serra Nevada, vista de Granada ... e `a parede do meu quarto, como disse um argentino. Depois as nuvens abriram um pouco e deu pra adivinhar que a cidade é um espetáculo.
Machu Pichu é realmente uma maravilha. Eh bem maior do que eu imaginava, maior do que as lindas cidades fortificadas da Europa, como Gruyere, Aix en Provance, etc. Pelo menos tão bonita como essas, com a graça da vegetação tropical, as montanhas deslumbrantes (mais ou menos como pães de açúcar tamanho gigante) e o clima Indiana Johnes que nem os milhares de turistas que andam de um lado pro outro conseguem apagar. O negocio esta muito bem cuidado - também eles cobram uma fortuna. A maior parte dos edifícios foi parcialmente reconstruída, mas não se nota a diferença.

Sabe as fotos famosas? É assim mesmo. Lindo.

Um comentário:

  1. Potente. A cidade e a sensação de chegar lá caminhando. Não creio que se compare com a experiência de ir de trem. Ainda mais quando a cidade vira uma grande disneylandia depois das 10hs da manhã. Vi pessoas mais velhas caminhando caminhando caminhando. Vale a pena. Afinal devagar se vai longe.
    Dali joãooooooooo....

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