quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

O Equador e uns palpites sobre o desenvolvimento


Equador foi uma grata surpresa. Em primeiro lugar porque encontrei um país muito, mas muito mais desenvolvido, bonito e organizado do que eu imaginava. Por sinal é um país muito do ajeitado.Ninguém fala do Equador ! A minha imagem de subdesenvolvimento se deve principalmente, lógico, à ignorância. Mas também a alguns preconceitos do nosso imaginário do que é desenvolvimento. Por exemplo: a moeda é o dolar. Eles dolarizaram a economia como "solução" para a super-inflação. Raciocínio: só pode ser uma paizinho merda, que não se dá ao respeito nem de manter a própria moeda, o Estado deve ser quase inexistente epresença do Estado na vida cotidiana. As cidades são super organizadas, no que diz respeito ao trânsito e aos cuidados urbanísticos. Todas as ruas têm placas com os nomes. Há sinalização por todos os lados. As calcadas, praças, jardins, canteiros são super bem cuidados.Tudo bonitinho. Dá pra ver que tem controle urbanístico: os prédios são mais ou menos todos do mesmo tamanho e tem certa harmonia. Em Quito, por sinal, a harmonia da arquitetura é um show. Todos prédios coloniais de três ou quatro andares, com sacadas no segundo andar, cores vivas, vasos de flores e telhados graciosos. Todos mais ou menos parecidos, nenhum excepcionalmente bonito. E são muitos. Preenchem todo o centro (antigo) da cidade. É por essa quantidade e harmonia que a cidade é bonita - é mesmo motivo que aumenta a graça de Paris.

É verdade que escrevo sobre um país que "conheci" em 4 dias e o pior é que saí com a impressão de ter entendido as coisas. Deve ser por isso que o Levi-Staruss diz que odeia as viagens e os viajantes, que, como eu, dão palpites sobre o que pensaram ter descoberto. Mas e daí, o grande barato da antropologia não vem, exatamente do valor da experiência particular ? Estado, descobri um belo país, totalmente desconhecido, que tem paisagens lindas nas montanhas, com muito verde, terras cultivadas e uma vegetação exuberante, como se a floresta amazônica tivesse se adaptado às altas montanhas. Nas cidades também há plantas para todos os lados e não são nada discretas. Se uma praça tem um jardim, o governo uma zona. Ledo engano! Até agora é o país que vi onde se nota a maior pode ter certeza que terá palmeiras majestosas, folhagens enormes, transbordando dos canteiros. E fazem um contraste interessante com a delicadeza da arquitetura.

Mas não é só o estado que é "desenvolvido". O país parece bem mais rico do que os anteriores (Peru e Bolívia). Têm casas bonitas, lojas mais de luxo, shopings, carroes, etc. E o contraste com a parte pobre me pareceu menor também - nesse caso o fato de ter ficado só 4 dias pode ser fatal - mas deu pra saber que muita gente sai do Peru para trabalhar e estudar no Equador. De quebra, Quito é uma cidade super animada, com um night fervilhante até mesmo ma terça-feira. Fiquei com a maior vontade de conhecer o litoral, que deve ser interessante.

Mas o que quer dizer desenvolvido? Não vou repetir o discurso que todo mundo já sabe ou devia saber da "crítica ao desenvolvimento" (com a qual concordo). Mas o que me chamou a atenção foram duas impressões contraditórias, mas que para mim, ambas fazem o mesmo sentido. A primeira impressão é de que, contra tudo o que sempre pensei, é possível que realmente haja uma espécie de caminho ou contínum que vai do menos ao mais desenvolvido. Acho que isso foi obra da globalização. Quase que "fatalmente" maior inserção nos circuitos globais corresponde a maior abundância e a níveis de vida mais confortáveis. Estar de fora dessa marcha é estar condenado a um monte de ausências ou carências - como a Bolívia. (essa é a sentença neo-liberal) A outra impressão (que nesse caso é também um pensamento) é de como é tolo acreditar que os fatores aspectos que consideramos como compondo uma sociedade desenvolvida possam ser universais ou mesmo que possam ser perfeitamente distinguidos e nominados. Que absurdo pensar que ter praças bonitinhas é um fator de desenvolvimento. Acho os jardins ingleses horríveis e não é por isso que acho a Inglaterra um país subdesenvolvido (por ser uma monarquia, usar um sistema métrico baseado nos dedos de um tirano filho da puta, dirigir pelo lado errado da rua, não ter um sistema público de saúde descente, sim). Comentários a parte, os ônibus serem umas latas velhas, o governo quase inexistente ou mesmo salários a um nível muito baixo, não são, necessariamente provas de subdesenvolvimento. Os peruanos chama de ótimos alguns ônibus que para mim são uma vergonha, embora os mesmos peruanos andem em carros muito melhores que o meu (e certamente chamariam o bom e velho escot de lata velha - uma injustiça). De alguma forma, cada um escolhe o que considera ou não importante.

O mais interessante é que esses dois pontos de vista não precisam ser, necessariamente, contraditórios (a não ser, é claro, se alguém quiser tirar as consequências ideológicas que os neo-liberais gostam de tirar da primeira parte). Na verdade, eles são simultâneos na vida. E esse é um grande barato da América Latina. Essa aparente contradição desordenada que funciona direitinho, apesar de todas as provas em contrário.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Catagena

Eu estava escrevendo sobre o Equador - uma grata surpresa - para tentar manter alguma coerência com o trajeto, mas depois de chegar a Cartagena de Índias, a capital clombiana do Caribe, escrever sobre qualquer outra cidade se tornou supérfluo. Não é exagero. Tudo bem, Rio e Paris ainda ganham... Mas Cartagena é o máximo.

Depois de casarem de terem seus saques saqueados pelos piratas, os colonizadores espanhóis resolveram transformar seu principal porto caribenho em uma cidade fortificada inexpugnável. As muralhas - enormes, potentes e até bonitas - continuam de pé. Além disso, rechearam com muito bom gosto a fortificação. Todo o centro antigo está preservado e, diga-se de passagem, eram casas que mereciam ser preservadas. Todas, realmente todas, as ruas da cidade antiga são lindas. É isso que faz uma cidade incrível. Não é um monumento, prédio ou museu bonito que faz um cidade ser interessante. É o bom gosto generalizado - e também certa dose de modéstia aos construtores, que aceitem fazer uma bela obra que mantenha a harmonia com as demais. E bom gosto é o que ao faltou aos construtores de Cartagena. Além disso, a maior parte das casas estão bem conservadas, mas não com "cores suvinil" - essas renovações em massa que pintam todas as fachadas aos mesmo tempo, fazendo com que a cidade pareça de plástico no início e depois todas fiquem decadentes ao mesmo tempo.

Além disso, a cidade é alegre! vibrante! animada! assim mesmo, com esse monte de pontos de exclamação. Oh gente simpática a colombiana! É impressionante. Volta e eu fico assustado e desconfio, achando que tanta simpatia deve ser para se duvidar, que a pessoa deve estar querendo dar um golpe. Nada. Coisa de paranóico. Um exemplo: desci do ônibus e uma menina - muito, muito gata - que tinha me visto falar com o condutor (em português é motorista, né?) literalmente me pegou pela mão e disse: vou te levar a um hotel. Pensei: a cachorra vai me roubar - se der sorte ela resolve me comer antes. Nada! Andou um tempão comigo, perguntou preços, pechinchou, etc. Maior simpatia. E isso é generalizado na Colômbia.

Voltando à cidade, eu cheguei de dia e, sem perceber, fiquei em um hotel no meio da zona da cidade (na "zona de baixo meretrício", como se dizia antigamente). E não é que até a zona é bonitinha! Além do centro, há pelo menos dois outros bairros "antigos". Não são tão ajeitados como o cento, mas também são lindos. Tem mais vida local e menos turistas pelas ruas. Na cidade, talvez no país, se ouve salsa por todo lado (na verdade, salsa, rumba, cúmbia e muitos outros ritmos que, se ou conseguir dançar todos do mesmo jeito, msmo que seja mal, já estou feliz).

Estou impressionado, é verdade.

Para poder falar mal de alguma coisa: a praia é uma merda, pelo menos a que eu fui. Mesmo sendo "mar do caribe" a água é turva, mauito mexida, a areia escura e tem milhoes de vendedores oferecendo barracas, cadeiras, etc que enchem o teu ouvido dizendo: "acá nadie te molesta". Lo veo...

Mas não tem o menor problema.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Sobre o Peru, Lima e outras coisas mais


Agora que percebi que não tinha escrito nada sobre o Peru. Talvez por medo de confessar que adorei o Peru e ser mal entendido. Mas é verdade, gostei mesmo. Não sei bem porque. É um país pobre, cheio de mazelas, muito mais que o Brasil (impressionante), tem picareta por todo lado, as cidades não são tão bonitas assim (dentre as que estive, Cusco, linda, é a excessao), mas não sei... fui com a cara. Acho que porque em parte parece o Brasil, principalmente o Brasil de uns 10 ou 15 anos atrás. Pela precariedade e bagunça de algumas coisas, pela pobreza, que é evidente para a maior parte da população e também porque sinto um clima de otimismo no ar (não importa que seja injustificado), como naquela época em que o Fernado Henrique vendeu o país a preço de banana e faturou um aumentozinho nos níveis de consumo durante uns anos.


¡O Peru Avança! Está escrito por toda parte, é a propaganda do governo. E seja lá o que deus quiser! Domingo passado todos os jornais comemoravam que eles assinaram o tratado de livre comércio com os EUA. Tem turista pra tudo quanto é lado. (Principalmente em Cusco - a impressão é que a cidade recebe 10 vezes mais turistas que o Rio - fui conferir e os números felizmente não dizem isso). Tem muamba pra tudo quanto é lado. Tem movimento nas ruas, os bares ficam abertos até tarde. A impressão que tenho é que as pessoas trabalham pra cacete. Todo mundo parece estar dando um jeito de levar a vida.

O país saiu de um período tenebroso, que misturou os desmando e gopes do Fujimori com a guerra contínua os entre governos e as guerrilhas do Tupac Amaru e Sendero Luminoso, que durou até 2000. Essa sensação, de estar melhorando, misturada ao orgulho peruano e ao agito sul americano da uma mistura interessante no ar.

Lima é um bom exemplo. A cidade não tem nada de mais, mas é interessante. Pelo menos eu gostei. Pra falar a verdade, gostei muito, não sei bem porque. A cidade eh enorme, não eh bonita, a praia é estranha, fica em baixo de um penhasco, tem pedrinhas no lugar da areia e a cidade não dá muita bola pra ela. A arquitetura não é grandes coisas. Os prédios antigos não são dos mais bonitos e estão misturado com um mote de outros mais ou menos modernos, quase todos feios.

Segui a sugestão do lonely planet e fugi do centro da cidade. fiquei hospedado em Miraflores, uma espécie de Leblon daqui, só que maior e, portanto, um pouco menos elitizado do que o nosso Leblon. É também mais simpático. O bairro parece não dar muita bola pra praia, mas aproveita o ventinho do mar. As ruas são largas, muitas tem árvores, prédios e casa compõem bem a paisagem, que não chega a ser bonita, mas é agradável. Não cheguei a sair, mas a night parece bem animada.

Acho que o que eu gostei foi dessa coisa que a gente sente no ar e chama com um monte de termos vagos, quase todo meteorológicos, como clima, ar, ambiente, atmosfera... É o Peru que avança!

Por sinal, não é a primeira vez que o Peru Avança. Dá pra ver nas ruas. Há Fords rabo de peixe e outros luxos de outros tempos circulando por aí. Mas tem também um "luxo" ou refinamento, que para nós é mínimo e que "não pegou". Só um exemplo: eles não emboçam as empenas cegas (deixam as laterirais dos prédios com os tijolos aparentes).

Esse tipo de coisa sempre foi o que eu mais gostei na geografia: que as cosas aparecem. Dá pra ver, andando em uma cidade, que ela teve períodos de maior ou menor crescimento, quais foram esses período, a riqueza relativa dos diferentes períodos, ou então quais são os locais da moda, quais são os lugares "suspeitos", de que crime eles são suspeitos... etc. A economia, os valores, a cultura, a lei a ordem social aparecem na geografia da cidade. Assim como as estruturas geológicas, os processos erosivos e os usos do solo aparecem na paisagem (fora da cidade). Ou será o contrário ? "Crescimento econômico" ou "períodos de maior abundância" são quando o PIB cresce a mais de x% ao ano ou quando aparecem carros novos na rua, quando se vê montes de materiais de construção nas calçadas e é uma dificuldade encontrar um bom pedreiro porque eles estão todos ocupados? Democracia é quando o sufrágio envolve a maior parte da população ou quando essa maior parte acha que o governo esta fazendo o que deve? [notem que nas minhas formulações do "mundo material" usei perspectivas bem conservadoras e passivas para a população. Crescer economicamente foi consumir e atuar politicamente foi não sentir-se aviltado pelo que os outros decidem em seu nome].

Bom , o negócio está começando apegar metafísica... melhor para por aqui.

Culinária


Até agora não tinha escrito nada das comidas. Talvez porque as da Bolívia em geral não convidem e eu tenha ficado ressabiado, talvez por preguiça mesmo. Mas o fato é que no Peru encontrei coisas que gostei muito. Em Lima matei minha saudade de ter uma cozinha e poder cozinhar. Finalmente pude comer um bife de verdade! Foi de verdade até demais. Comprei 400 gramas de carne argentina e preparei sem usar a faca - no ponto ideal: "jugoso".

Mas o melhor da cozinha Peruana, pelo menos que eu saiba, vem do mar e dessa maneira deliciosa de preparar as coisas que eles têm. Toda a comida é, em geral, muito picante. Mas não é qualquer picante. O Ceviche é o exemplo ideal. É extremamente picante e refreescante ao mesmo tempo. A mistura de limão, cebola e pimenta fermentada que cozinha, sem fogo, peixe e mariscos consegue ser, ao mesmo tempo, refrescante e queimar como fogo. ( E, quem me conhece, sabe que eu sou Baiano por adoçao em matéria de pimenta.) Essa combinação de sensações é, pelo que entendi, a principal característica da cozinha peruana. Tem umas sementinhas de milho, assadas e meio estufadinhas, mas antes de virar pipoca, que eles servem de aperitivo que também são ótimas.

Teve um dia que comprei conchas no supermercado e ficam ótimas (as "vieiras" ou "Coquille de St-Jacques" - as almejas ficaram uma merda). Por sinal, outro mérito da cozinha peruana. O Ceviche é a melhor forma de preparar as vieiras. Mantém toda a textura e suavidade originais. Aquele negócio vermelhinho que elas têm, que parece um fígado, fica um autêntico foi gras fresco. A mesma coisa acontece com o mexilhar, a lula e mesmo o peixe, que tem a vantagem sobre o japonês, de não ter de ser excelente para ficar uma delicia - coisa que no sashimi não existe. A bebida nacional, a Chicha Morada, não tem nada a ver, mas vai na mesma linha.

Em Lima eu achei tudo muito caro - também, fui ficar no "Leblon", em Miraflores. Mas aqui em Trujillo, uma cidade muito da sem graça, por sinal, os preços têm me deixado comer bem. Escrevo enquanto faço a digestão de um "fiesta del mar", prato com tudo que vem do mar que eles tinham no restaurante, que estava ótimo e custou uns 12 reais.

Outro aspecto importante da minha viagem culinária é que eu tenho um fraco: não posso ver um nome de comida que não conheça ou um prato anunciado como "típico" que eu como. Não perdoo. É a mesma coisa no supermercado. Comprei vários vegetais esquisitos e depois fiquei sem saber o que fazer com eles. Nessa mania de turista otário já comi um monte de porcaria nessa vida. Nesta viagem a pior foi sem dúvida o diabo do Cuy, um porquinho da índia super desenvolvido que eles comem aqui no Peru (ou pelo menos dão aos turistas otários). Em inglês o bicho se chama Guinea Pig e é a carne mais borrachuda, gordurosa e escaça que eu já comi. O pior é que era o prato mais caro do menu. Nessa linha também comi uma sobremesa que parecia um arroz doce feito com um genérico da quinua, que não estava assim tao mal, mas também não tinha graça e dezenas de pratos super apimentados. Mas já disse, sou naturalizado baiano.
Seguirei experimentando o que pintar.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Caminho Inca



Deslumbrante. Extenuante. Para mim são as duas melhores palavras para descrever essa "aventura". Dependendo do momento, uma e outra era a mais adequada. Machu Pichu no final é um presente merecido, para quem chega esgotado, dolorido e ensopado de chuva, suor ... sem cerveja. Adorei ter conseguido fazer, mesmo com o meu preparo físico, conquistado nas mesas dos botecos cariocas.

Fazer a trilha não faz sentido para quem não tem prazer com a atividade física da caminhada. As paisagens são bonitas, sim...maravilhosas, deslumbrantes, em alguns casos, mas por si só não valeriam o esforço. Se a caminhada for entendida como um preço a pagar para ver aquilo, ou para chegar a Machu-Pichu, eh melhor ir de trem . Sinceramente, dá para fazer trekings tão bonitos quanto esse na região da Ilha Grande, da Serra dos Órgãos ou Bocaina, na Chapada Diamantina, etc. Provavelmente serão menos cansativos e muito mais baratos. Mesmo assim, o caminho Inca é uma delícia e faz sentido ele ser o treking mais disputado do mundo. Em primeiro lugar pelas montanhas. Enormes, super inclinadas e cobertas por um vegetação deslumbrante, que vai da floresta sub-tropical aos campos de altitude, em um ambiente muito úmido que decora troncos e pedras com musgos e líquens de todos os tipos. Outro grande barato são as escadas e caminhos de pedra impecáveis, construídos pelos incas há mais de 500 anos, que se estendem por quase todo o caminho ( o "início" e o "final", perto de machu pichu foram construídos depois). Além disso, no caminho, volta e meia aparecem ruínas interessantes, que é difícil imaginar como foram parar ali.

O caminho na verdade é um "desvio", subindo as montanhas que sai e volta às margens do rio Urubamba . Imagino que a principal via de comunicação entre Machu-Pichu e as demais cidades do vale sagrado fosse pelo rio, e não pelo caminho inca. Por sinal, o Urubamba, o rio que construiu o Vale Sagrado dos Incas, pelos mapas que vi, nada mais é do que o Rio Amazonas. Será que eles sabiam que o seu vale sagrado era o vale do maior rio do mundo e que, se descessem todo o rio, iam chegar a outro oceano ? A propósito, o Vale Sagrado merece o nome. É lindíssimo. Os vales todos cultivados, divididos em quadradinhos formando um mosaico. Um monte de pueblitos muito simpáticos, um aqui outro ali. Muito verde, alguns pedaços de florestas e as encostas super inclinadas, algumas com a rocha aparente, a maioria coberta de vegetação. De brinde, de vez em quando se vê ao fundo um pico nevado. É uma região camponesa, mas não dá a impressão de ser muito pobre. Ao contrario, não sei se pela exuberância das plantações, tem um ar de comedida prosperidade.

De volta ao caminho, vamos à aventura. O primeiro dia é uma moleza, ônibus, almoço e uma caminhada leve de no máximo 4 horas. Dormimos num campo verdinho e fiquei horas olhando o céu e pensando como fui capaz de ficar tanto tempo sem acampar, sem estar no meio do mato... e muitas coisas mais. O segundo dia e muito, muito sinistro: uma subida de 1400 metros, saindo dos 2800 ate os 4.200... e esses últimos 200 metros são um sufoco. Depois uma ou duas horas de descida por uma escadaria de pedra. Você agradece por estar descendo, mas mesmo assim cansa. Eh extenuante, mas confesso que quando cheguei tinha uma deliciosa sensação de potencia. Sentia como se fosse capaz de fazer qualquer coisa. Como se pudesse comer a Madona, se quisesse. O terceiro dia eh mais leva, mas como vem depois do segundo... Acho que a gente desce uns 2000 metros pelas escadas de pedra. Não é cansativo como a subida, mas lá pela metade do caminho você não agüenta mais ver degrau. O legal é que tem varias ruínas. Segundo nosso guia, centros cerimoniais, religiosos e militares. Por sinal essa explicação servia para tudo. Essa gente não trabalhava? Só ficava rezando e arrumando confusão? Pelo menos o trabalho de colocar aqueles milhões de degraus no caminho eles tiveram... No terceiro dia chegamos "pertinho" de Machu Pichu, num local que tem chuveiro quente! Paguei uma fortuna (20 reais) por uma camiseta horrível, que estava limpa e seca. Tradicionalmente rola uma festinha ai, mas por alguma enrolação do nosso guia, fomos excluídos. Sinceramente, estávamos todos tão cansados que ninguém se importou muito. No dia seguinte, acordamos as 4 da manha para sir para Machu Pichu. Quem disse que era pertinho? Pertinho o cacete! São lá mais duas horas ou mais de caminhada em baixo de chuva. Da "janela do céu" - esses lugares têm todos os mesmos nomes - só se via nuvens. Cheguei a uma conclusão: Machu Pichu, de longe, é igual ah África vista de Gibraltar e ah serra Nevada, vista de Granada ... e `a parede do meu quarto, como disse um argentino. Depois as nuvens abriram um pouco e deu pra adivinhar que a cidade é um espetáculo.
Machu Pichu é realmente uma maravilha. Eh bem maior do que eu imaginava, maior do que as lindas cidades fortificadas da Europa, como Gruyere, Aix en Provance, etc. Pelo menos tão bonita como essas, com a graça da vegetação tropical, as montanhas deslumbrantes (mais ou menos como pães de açúcar tamanho gigante) e o clima Indiana Johnes que nem os milhares de turistas que andam de um lado pro outro conseguem apagar. O negocio esta muito bem cuidado - também eles cobram uma fortuna. A maior parte dos edifícios foi parcialmente reconstruída, mas não se nota a diferença.

Sabe as fotos famosas? É assim mesmo. Lindo.